O estreitamento das relações entre Brasil e China vai a todo vapor. O aprofundamento da parceria estratégica é resultado da visita do presidente Lula a Pequim, no primeiro semestre. A perspectiva é de incremento das exportações brasileiras e de investimentos chineses em projetos de infraestrutura no país, num novo marco de cooperação que abrange áreas distintas como a econômica, comercial, cooperação científica e cultural.
Na recente visita a Pequim, com um grupo parlamentar brasileiro, pude abordar as potencialidades das exportações do Brasil com diferentes autoridades, inclusive o presidente chinês, Xi Jinping. As conversas foram produtivas, deixaram evidente o quanto que o Brasil é reconhecido como parceiro estratégico para a China. Reforçamos o convite para que Xi Jinping venha ao Brasil ano que vem, para a cúpula do G20, e ele sinalizou positivamente.
Os números, por si só, são reveladores. Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004. Nesse último ano, a China foi responsável por praticamente metade do nosso superávit comercial. O país já é o principal parceiro comercial do Brasil e de toda a América do Sul.
Na viagem à China, Lula retomou o diálogo com Pequim depois de quatro anos de omissões e desprezo do governo militarista passado. Lula e Xi Jinping assinaram mais de 15 acordos bilaterais – fora os acertados entre empresas dos dois países – principalmente nas áreas de desenvolvimento de tecnologias, intercâmbio de conteúdos de comunicação e ampliação das relações comerciais. As áreas de interesse abrangem saúde, aviação, mineração, finanças, petróleo, energias renováveis, indústria automotiva, agronegócio, linhas de crédito verde, tecnologia da informação e infraestrutura.
Num mundo conturbado, é necessário destacar que a aproximação Brasil/ China extrapola os interesses econômicos e comerciais. Avança-se, antes de mais nada, na parceria para a conformação de uma ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica. Essa nova ordem, debatida ao longo de décadas pelos países em desenvolvimento, é o caminho para solucionar graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a degradação ambiental, a pobreza, as desigualdades e as guerras.
Entretanto, a despeito das cifras econômicas e comerciais, das parcerias e da plena sintonia em torno de uma pauta global, baseada na paz, entendimento e cooperação entre os povos, há ainda críticas infundadas de setores oligárquicos e reacionários à aproximação com a China. Há uma espécie de demonização sem nenhum sentido.
A China não colonizou nenhum país, portanto, não tem responsabilidade histórica por inúmeros problemas mundo afora. Pelo contrário, tem atuado para criar uma nova ordem sem as mazelas do neocolonialismo, em outras bases de cooperação. Não tem interesses imperialistas, não tem bases militares fora de seu território. Não há, assim, motivos para hostilidades, nem do Brasil, nem de outros países do Sul Global.
O interesse brasileiro é que move as relações com a China, tanto do ponto de vista econômico e comercial como também na aliança diplomática para a consecução de uma nova ordem mundial que suceda a conturbada situação atual, em que o aspecto mais visível é o enfraquecimento das instituições multilaterais sob a égide da Organização das Nações Unidas.
Como diz o presidente Lula, países em desenvolvimento devem se unir para, juntos e de forma soberana, alcançarem seus objetivos comuns, como o combate à pobreza e à fome e o aumento da renda e da qualidade de vida de suas populações. Podemos avançar. É nesse cenário que podemos celebrar os 50 anos de reatamento de relações diplomáticas Brasil/China, com amizade e aproximação econômica e cultural.
*Zeca Dirceu: deputado federal pelo Paraná e líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados
Artigo publicado na revista Focus
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados