A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou, na última quarta-feira (16), a aula inaugural do Ciclo de Imersão Política – A História da Democracia no Brasil, no Auditório Franco Montoro. Promovido pela deputada Thainara Faria (PT), o evento contou com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Dimas Ramalho, e a cantora e ativista Bia Ferreira, além de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de mais de 20 municípios do interior de São Paulo. A proposta do ciclo é ampliar o acesso à política e estimular o debate sobre os caminhos da democracia, visando reduzir desigualdades.
Thainara Faria destacou a importância de espaços como esse. “É o segundo ano em que fazemos o ciclo por entender a necessidade de dialogar com as pessoas e disputar a consciência de raça, de classe e de gênero”, afirmou a deputada. Para ela, conhecer a história do país e entender seu processo de colonização e legislação é essencial para impedir retrocessos. “Se nós não soubermos como o nosso país foi construído e se não soubermos das leis, teremos o país nas mãos de pessoas que não defendem os interesses da maioria da população”, disse.
A próxima aula do ciclo está marcada para o dia 12 de maio e será realizada de forma híbrida, com encontro presencial previsto em Araraquara.
Voz que mobiliza
A cantora e compositora Bia Ferreira abriu e encerrou sua fala com as canções “Deixa que eu conto” e “Nós”, respectivamente. “Eu faço arte porque acredito no poder de emancipação e transformação que a arte traz”, disse. Mulher negra, lésbica e artista, ela reforçou que contar a própria história é um ato político. “A arte fala com as pessoas em lugares onde eu, sozinha, não conseguiria chegar”, afirmou.
Para Ferreira, “um povo sem cultura é um povo que não sabe quem é”. Por isso, considera fundamentais espaços como o ciclo de imersão para dar visibilidade a pessoas que, muitas vezes, não têm a chance de falar e serem ouvidas. “A democracia só é possível com liberdade, igualdade e justiça”, pontuou.
Democracia em construção
O conselheiro do TCE-SP Dimas Ramalho trouxe um panorama histórico da formação das constituições brasileiras e dos regimes que o país passou. “A democracia ainda está em construção no Brasil. Ela tem que ser a cara da nossa população, com todas as cores, raças e credos”, afirmou.
Para isso, o conselheiro reforçou que a população “não deve ser jamais objeto da história, mas sujeito dela para mudar o seu destino”. Nesse sentido, ele lembrou conquistas como o SUS, o direito de voto das mulheres em 1932, a Lei de Acesso à Informação e a Lei de Cotas, mas alertou: “Não adianta ter direitos se eles não forem efetivados. É preciso garantir condições reais para exercê-los”.
Ramalho também frisou a importância do combate a todos os tipos de violência. “Não basta ser contra o preconceito, é preciso agir, ter coragem cívica, para que ele não aconteça”, afirmou.
Perspectiva indígena sobre o Brasil
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, foi uma das presenças mais marcantes do encontro. Convidada para falar sobre a formação do Estado brasileiro sob o olhar de uma mulher indígena, ela fez um resgate histórico: “O Brasil nasceu sob territórios indígenas e corpos negros. A democracia que conhecemos sempre excluiu os nossos, mas aos poucos fomos entrando com resistência e organização”.
Guajajara falou sobre a importância de descolonizar pensamentos e valorizou conquistas recentes, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas, a eleição da bancada do Cocar e o fato de, pela primeira vez, uma mulher indígena presidir a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). “A democracia precisa ter a nossa cara. A política é um instrumento de transformação, mas poucos sabem usá-lo. É preciso cultivar a consciência para saber onde estamos e para onde queremos ir”, pontuou.
Para Guajajara, “a democracia precisa de afeto, de cuidado e de floresta”. Ela reforçou que nenhuma democracia é completa com povos oprimidos, e por isso há sempre a necessidade de dialogar com os diferentes.
Participação popular
A funcionária pública da cidade de Ourinhos, Daniele Machado, participou pela primeira vez do ciclo de imersão política. Com a pretensão de se tornar vereadora do município, ela acredita que a experiência a ajudará nesse processo. “Espero sair daqui rica em conhecimento para lutar pelas causas que me movem, como os direitos dos trabalhadores e a saúde pública”, afirmou. Para ela, o evento “aflora ainda mais o desejo das pessoas de estarem na política”.
O ciclo reafirmou a necessidade de promover debates e formações que informem, questionem e inspirem a população. Afinal, como pontuou Bia Ferreira: “O que você tem feito com tudo o que você sabe?”.
Assista à Sessão, na íntegra, na transmissão realizada pela Rede Alesp:
Fonte: Fernanda Franco – Alesp
Foto: Rodrigo Costa