Presidente alerta na reunião das potências do Canadá necessidade de mobilização contra mudança climática. E critica o acirramento de guerras que se acumulam e o risco de consequências “inestimáveis”
O presidente Lula observou nesta terça-feira (17/6) que os gastos militares do mundo desenvolvido consomem anualmente US$ 2,7 trilhões, o equivalente ao PIB da Itália. Como convidado, o líder brasileiro falou à cúpula do G7, no Canadá, que guerras e conflitos se acumulam diante do vácuo de liderança na governança global e dos organismos internacionais. “Estão sentados em torno desta mesa três membros permanentes do Conselho de Segurança e outras nações com tradição na defesa da paz. É o momento de devolver o protagonismo à ONU”, cobrou Lula.
Em seu discurso, advertiu que a guerra entre Rússia e Ucrânia não terá solução pela via militar. Ressaltou que nada justifica a “matança indiscriminada” de mulheres e crianças em Gaza, e uso da fome como arma de guerra por parte de Israel. “Ainda há países que resistem em reconhecer o Estado Palestino, o que evidencia sua seletividade na defesa do direito e da justiça.”
O chefe de Estado brasileiro alertou ainda que o acirramento do conflito entre Israel e Irã, após os ataques iniciados pelo primeiro, “ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis”. E criticou a indiferença da comunidade internacional ante “o cotidiano de caos e atrocidades perpetradas pelo crime organizado” no Haiti.
Só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura”, disse Lula, sobre o cenário global que classificou como preocupante antes de chegar à reunião. “Não subestimo a magnitude da tarefa de debelar todas essas ameaças. Mas é patente que o vácuo de liderança agrava esse quadro.”
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Mudanças climáticas e transição energética
O presidente Lula lembrou que o G7 foi criado como reação à crise do petróleo há 50 anos. E que a crise que deveria mobilizar as nações desenvolvido no presente é a climática.
O G7 foi criado em 1975, por iniciativa do presidente francês Valéry Giscard d’Estaing, com o objetivo de reunir os países mais industrializados do mundo à época para tratar de questões de política econômica de interesse comum. Em 2025, o grupo completa 50 anos de existência. Atualmente, os países-membros são: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Para a reunião no Canadá foram convidados também África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia e México. Além de dirigentes dos seguintes organismos internacionais: ONU, Banco Mundial, Comissão Europeia e Conselho da União Europeia.
Os choques dos anos setenta mostraram que a dependência de combustíveis fósseis condena o planeta a um futuro incerto. Mas o mundo resiste em aceitar que a diversificação é chave para a segurança energética. O Brasil foi o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis; 90% de nossa matriz elétrica provém de fontes limpas”, disse Lula.
O presidente lembrou o pioneirismo do Brasil na pesquisa e produção de combustíveis verdes, como etanol e biodiesel. Citou ainda os investimentos no desenvolvimento do hidrogênio verde, na descarbonização do setor de transportes e da agricultura na expansão dos parques eólicos e solares.
É impossível discutir a transição energética sem falar deles e sem incluir o Brasil. Contamos com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda de níquel, grafita e terras raras e a terceira de manganês e bauxita. Mas não repetiremos os erros do passado. Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos. Ela não deve ameaçar biomas como a Amazônia e os fundos marinhos”, afirmou.
O discurso de Lula reforçou mensagens levadas pelo Brasil à Cúpula dos Oceanos em Nice na semana passada. “O Brasil não vai se tornar palco de corridas predatórias e práticas excludentes”, destacou. “Países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas das cadeias globais de minerais estratégicos, incluindo seu beneficiamento. Essa foi nossa posição no G20 e tem sido nossa tônica no Brics”, reiterou.
“Parcerias devem se basear em benefícios mútuos, não em disputas geopolíticas. Se a rivalidade prevalecer sobre a cooperação, não existirá segurança energética.”
A agenda do presidente no Canadá prevê ainda reuniões com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, e com o novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz.
Fonte: Paulo Donizetti de Souza | Agência Gov
Foto: Ricardo Stuckert/PR