Durante conferência na Arábia Saudita, ministro da Fazenda defende agenda que exija mais sustentabilidade fiscal, social e ambiental para o mundo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (17/2), que o Brasil está “tentando encontrar um caminho de equilíbrio e sustentabilidade, mesmo em face de um ajuste importante”. Ele salientou que o Brasil saiu de uma inflação de dois dígitos, há três anos, para um índice entre 4% e 5%. “O Brasil está relativamente dentro da normalidade do Real, implementado há 26 anos”, afirmou, durante conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Economias de Mercados Emergentes, em Al Ula, na Arábia Saudita.
Ao participar do painel “Um caminho para a resiliência dos mercados emergentes”, o ministro explicou que a alta do dólar no mundo causou um aumento da inflação, no segundo semestre do ano passado, levando o Banco Central brasileiro a intervir para garantir a queda da taxa. Em meio a essa situação, ele salientou que o Brasil está crescendo em torno de 3% a 4% ao ano, nos últimos dois anos, contrariando todas as previsões nacionais e internacionais.
Haddad citou resultados do Governo Federal, como a “menor taxa de desemprego da história”, e medidas como “uma Reforma Tributária que é a melhor já feita no País” para atender a população mais pobre, que não pagará impostos sobre o consumo.
“O ajuste fiscal que estamos fazendo não é recessivo, porque estamos garantindo uma taxa de crescimento de 3% a 4%, com uma inflação em declínio, mesmo tendo que aumentar a taxa de juros neste momento para convergir para as metas estabelecidas pelo Banco Central”, explicou. Ele observou, também, que o dólar já “voltou a níveis adequados”, caindo em torno de 10% nos últimos 60 dias, o que deve fazer com que a inflação se estabilize.
Reglobalização sustentável
Falando sobre o G20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo , além da União Africana e União Europeia ), Fernando Haddad defendeu uma reglobalização sustentável, não direcionada apenas a interesses do mercado, mas capaz de lidar com as desigualdades regionais e distribuir oportunidades econômicas geograficamente. “Temos que repensar uma reglobalização sustentável, social e ambiental. Algo que ganhou força hoje em dia. Temos que encarar isso com muito, muito cuidado”, frisou.
Nesse contexto, ele também comentou que o FMI está mudando “para melhor”, incluindo elementos que reforçam a cooperação internacional e lançam luz sobre assuntos que antes não eram considerados na relação com os países membros. “Um deles é a questão social, que se tornou a questão central para a situação financeira com os países que são ajudados pelo FMI”, destacou.
Outro ponto abordado diz respeito às transformações ecológicas, que assumem papel importante nas negociações com os países. Para Haddad, o trabalho que o FMI vem fazendo traz esperança em relação a novas formas de financiamento para países de baixa renda, que estão enfrentando “taxas de juros insuportáveis”, quando precisam cumprir seus compromissos.
Carbono e serviços ambientais
O ministro brasileiro salientou ainda a necessidade de integração dos mercados de créditos de carbono para evitar que alguns países usem barreiras comerciais sob o pretexto de proteger o meio ambiente, “quando nem sempre esse é o principal objetivo”. Além disso, destacou, entre outros assuntos, a questão do pagamento por serviços ambientais, lembrando que muitas economias emergentes gastam “pequenas fortunas para manter suas florestas tropicais em pé”, como acontece com o Brasil e alguns países vizinhos.
Segundo o ministro da Fazenda, o Brasil defende um arranjo financeiro que permita, de um lado, ter um mercado internacional de crédito de carbono e, do outro, o pagamento por serviços ambientais para países de baixa renda que estão tendo dificuldades para pagar suas dívidas em virtude do dólar alto e das altas taxas de juros.
Haddad reforçou que é preciso pensar em ajustes fiscais e ações sobre mudanças climáticas junto com desenvolvimento social. “A orientação que o presidente Lula, juntamente com organizações e fóruns internacionais dos quais o Brasil faz parte, é que sejamos capazes de coincidir uma agenda econômica com uma agenda socioambiental. Então, não parece impossível a conciliação desses múltiplos interesses em torno de uma agenda que efetivamente exija mais sustentabilidade fiscal, social e ambiental para o mundo”, disse.
Conferência para Economias de Mercados Emergentes
Organizada pelo Ministério das Finanças da Arábia Saudita e pelo Escritório Regional do FMI em Riad, a Conferência para Economias de Mercados Emergentes ocorre anualmente. O evento trata do tema da política econômica e reúne ministros de Finanças, representantes de Bancos Centrais e formuladores de políticas de mercados emergentes.
O ministro Fernando Haddad participou do painel final do encontro, moderado pela diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, com participação da ministra do Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Cooperação Internacional do Egito, Rania Al-Mashat, e dos ministros de Finanças do Paquistão, Muhammad Aurangzeb, e da Turquia, Mehmet Şimşek.
Foto: Diogo Zacarias/MF