O vice-líder da Bancada do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), qualificou nesta última quarta-feira (26) como “estarrecedoras” as revelações do inquérito da Polícia Federal que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022, com a participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado pelas investigações como um dos principais artífices da trama.
Lindbergh conclamou a Justiça a agir rapidamente para punir Bolsonaro e outros 36 membros da quadrilha golpista – entre militares e civis – indiciados pela PF. Ele defendeu mudança da Constituição Federal para “separar definitivamente os militares da política”, como forma de fortalecer a democracia e prevenir novas aventuras golpistas.
O parlamentar citou o relatório da PF, de mais de 800 páginas, cujo sigilo foi levantado nesta terça-feira pelo ministro Alexandre de Moraes. “Está muita clara a participação direta de Bolsonaro no plano golpista e de assassinato do presidente Lula, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal”.
Organização criminosa
Na página 841, por exemplo, conforme lembrou o deputado do PT, as investigações comprovam “inequivocamente que o então presidente Bolsonaro planejou , atuou e teve domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa, que objetivava a concretização do golpe de Estado e a abolição do Estado de Direito”.
O mais grave, na opinião de Lindbergh, é que o ex-capitão Bolsonaro “estava à frente e sabia de tudo”. “Ele tinha conhecimento detalhado do Plano Punhal Verde Amarelo, para assassinar Lula, Alckmin e Moraes”. Lindbergh lembrou que no dia 9 de novembro de 2022 o plano foi impresso no Palácio do Planalto e levado ao conhecimento de Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.
Outro ponto gravíssimo, na opinião de Lindbergh Farias, foi a reunião no dia 12 de novembro, na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, com mais seis meliantes da quadrilha, para tratar especificamente do assassinato do ministro Alexandre de Moraes. O organograma incluía também impedir Lula de subir a rampa do Planalto e a utilização de tanques da Marinha para consolidar o golpe. Exército e Aeronáutica não aderiram à aventura golpista.
Torturadores
Lindbergh lembrou que a trajetória de Bolsonaro sempre foi de desprezo à democracia. Ele já defendeu que a ditadura militar (1964/85) devia ter assassinado uns 20 mil opositores do regime e, já na democracia, preconizou o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995/2002).
Lindbergh disse que não causa surpresa a ação de Bolsonaro e seus cúmplices golpistas, pois todos são alinhados à linha dura das Forças Armadas, que nos tempos sombrios da ditadura assassinaram e torturaram opositores, muito deles “desaparecidos” e cujos corpos nunca foram encontrados, como o do ex-deputado Rubens Paiva, caso agora retratado no filme Ainda Estou Aqui, atualmente em cartaz.
Um dos golpistas indiciados pela PF é o general Augusto Heleno, que nos anos 70 foi ajudante de ordens do general Silvio Frota, que tentou dar um golpe contra o então presidente, general Ernesto Geisel, quem deu início a um processo de abertura política no país.
Conforme lembrou Lindbergh, a linha dura das Forças Armadas – à qual se alinha Bolsonaro – explodiu 70 bombas no país entre 1978 e 87, incluindo a sede da OAB /Rio de Janeiro, Riocentro e bancas de jornais e revistas. “É essa é a turma de Bolsonaro”.
Segundo o parlamentar petista, a Câmara dos Deputados precisa debruçar-se sobre o tema, que é de extrema gravidade.
Entre os 37 indiciados pela PF há ex-ministros e militares de alta patente. Segundo as investigações, eles atuaram em 6 núcleos para abolir a democracia no Brasil e evitar a posse de Lula em janeiro de 2023. O relatório da PF foi encaminhado por Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora terá um prazo de 15 dias para decidir se apresentará uma denúncia contra os envolvidos, arquivará o processo ou solicitará novas diligências antes de tomar uma posição.
Foto: Mário Agra
Fonte: Site do PT na Câmara