É com muito orgulho que estamos irmanados para enaltecer o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em sessão solene a ser realizada nesta quarta-feira (28/2) na Câmara dos Deputados.
Movimento que nasceu em plena ditadura militar e completou 40 anos em janeiro. E que foi fundado por posseiros, pessoas atingidas por barragens, migrantes, meeiros, parceiros, pequenos agricultores, entre outros importantes atores políticos.
A função de um movimento social é organizar o povo. E isso o MST faz muito bem. Ao longo de quatro décadas ele aponta caminhos com projetos de desenvolvimento alternativos no campo. E não apenas como produtor em larga escala de alimentos saudáveis, mas também construindo ferramentas para acesso aos direitos básicos.
O MST existe, e deve ser saudado com a potência que é, porque no Brasil persiste a injustiça social. O Brasil é um dos países com maior concentração de terras do mundo e onde estão os maiores latifúndios.
O último Censo Agropecuário 2017 mostra que essa concentração é cada vez maior. Apenas 1% dos proprietários de terra controlam quase 50% da área rural do País.
A reforma agrária, que foi realizada em muitos países, inclusive nações capitalistas, é uma reivindicação histórica com lutas de décadas e décadas no Brasil. Se lamentamos os dados dessa imensa desigualdade social, do outro lado os números impressionam de forma positiva. O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Na safra de 2023 colheu 16 mil toneladas. E não é só isso. São cadeias produtivas em grande escala que produzem feijão (100 mil toneladas), milho, trigo, café, leite, mel, mandioca e diversos hortifrutis.
Essa produção vem das mãos de mais de 400 mil famílias assentadas e cerca de 70 mil famílias acampadas, presentes em 24 estados brasileiros. São 1.900 associações, 185 cooperativas e 120 agroindústrias que produzem, beneficiam e comercializam as safras da Reforma Agrária Popular. Nas regiões Sul e Sudeste 14 cooperativas organizam 5.500 famílias produtoras de leite. São 37 milhões de litros de leite por mês destinados aos mercados.
O MST plantou 10 milhões de árvores nos últimos quatro anos e construiu mais de 300 Viveiros. Na área educacional ergueu duas mil escolas públicas para 200 mil pessoas, entre crianças, adolescentes, jovens e adultos. Além disso, já alfabetizou mais de 100 mil pessoas.
Durante a pandemia, o MST doou mais de 9 mil toneladas de alimentos saudáveis para a população das periferias. Doou 2 milhões e 500 mil marmitas para famílias vulneráveis nas 40 cozinhas solidárias dos movimentos sociais.
E uma notícia de última hora. O MST inaugurou no sábado passado, dia 24 de fevereiro, Sacolão Popular na Mooca, em São Paulo, onde estão programadas ações para a população em situação de rua. No ano passado o MST enfrentou a quinta CPI na Câmara dos Deputados. Foi mais uma tentativa infrutífera de criminalizar o maior movimento popular da América Latina. Mas, o MST saiu mais fortalecido na sua luta de 40 anos para que a Constituição Federal seja cumprida e a função social da terra seja respeitada.
Ao longo dos meus quatro mandatos de vereança iniciada em São Paulo em 2009 e agora como deputada federal tenho uma forte relação com o MST, sempre aprendendo com suas ações voltadas a promover a cidadania e a justiça social.
Por isso, nessa justa homenagem não poderia ser diferente. O sentimento é de gratidão por tudo o que tem sido realizado pelo MST para a dignidade do povo brasileiro.
*Juliana Cardoso é deputada federal eleita por SP. Faz parte da Comissão de Saúde e da Comissão de Mulheres, além de suplente na Comissão dos Povos Originários e Amazônia.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil