Às vésperas do depoimento de Jair Bolsonaro em Brasília nesta quinta-feira, 22, a Polícia Federal (PF) aposta em duas frentes de investigação que podem confirmar o elo entre toda a trama golpista e os ataques às sedes dos Três Poderes dia 8 de janeiro de 2023. Tudo o que a PF investigou até agora, somado às oitivas do ex-presidente e mais nove ex-assessores, tem potencial para comprovar que Bolsonaro foi o chefe de organização criminosa que tentou derrubar o presidente Lula.
“Isso fica claro (segundo a PF) na reunião que foi chefiada pelo ex-presidente em julho de 2022 na qual ele insuflou seus ministros a questionar o resultado das eleições. Na gravação do encontro, cujo sigilo foi retirado por Moraes (Alexandre de Moraes, ministro do STF) Bolsonaro falou em entrar em campo usando ‘o meu exército, meus 23 ministros’”, publicou nesta quarta-feira, 21, o jornal Folha de São Paulo em matéria sobre um relatório produzido pela PF.
Sobre a minuta do golpe que teria sido revisada por Bolsonaro, mesmo não tendo sido concretizado, a tentativa de golpe está materializada “porque foram colocados em curso atos de execução para que ele ocorresse, mesmo isoladamente”, informou o relatório da PF. “Esses elementos mostram que houve consumação do crime”, escreveu a Folha sobre a avaliação dos agentes.
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Dinheiro para o golpe
A PF apura se militares da ativa, membros do governo Bolsonaro e até mesmo a Presidência da República efetivaram pagamentos para dar suporte às ações golpistas, diz a Folha.
As investigações da PF têm várias frentes, como as mensagens entre o general Braga Netto, ex-ministro e vice na chapa de Bolsonaro em 2022, e os ‘kids pretos’, membros das Forças Especiais do Exército, segundo a Folha. Especificamente uma conversa entre o general e um assessor de Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, é peça essencial para a PF, que achou as mensagens no celular do assessor.
Quatro dias antes da posse de Lula, portanto, a poucos dias do fim do mandato de Bolsonaro, Cordeiro pergunta para onde deve encaminhar o currículo de uma pessoa e Braga Netto responde: “Se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda”, publicou o jornal ao escrever que a PF considera que o general “sinaliza a possibilidade de continuar no poder” e que ainda havia esperança de que o grupo de Bolsonaro continuasse no poder.
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“Paralelamente, integrantes da PF destacam uma negociação, encontrada em conversas entre o tenente-coronel Mauro Cid, sobre o pagamento de R$ 100 mil ao major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira. O objetivo seria custear despesas de manifestantes em Brasília”, divulgou a Folha ao informar que a negociata se deu depois das eleições e antes das manifestações em frente ao quartel do Exército em Brasília dia 15 de novembro.
O conluio entre militares da ativa e membros da equipe de Bolsonaro dando suporte material e financeiro para as manifestações é, para a PF, parte da estratégia para “garantir uma falsa sensação de apoio popular à tentativa de golpe”.
“Isso não só revela a tentativa do núcleo do ex-presidente de manter a militância organizada para questionar o resultado das urnas, mas também é indício de que integrantes das Forças Especiais do Exército teriam orientado a atuação de manifestantes em 15 de novembro de 2022”.
A atuação dos “kids pretos”, como são chamados os membros das Forças, foram fundamentais para que o 8 de janeiro tomasse grande proporção, segundo a PF, que trata como prioridade de investigação a participação deles nos ataques terroristas em Brasília. A PF espera que Mauro Cid, em sua oitiva nesta quinta-feira, 22, “esclareça as circunstâncias da tratativa já que esse caso não foi mencionado por ele na sua delação premiada”, publicou a Folha.
Militares não golpistas foram alvo do gabinete do ódio
As investigações contidas no relatório evidenciam ainda que Braga Netto atuou junto ao chamado gabinete do ódio para insuflar as milícias digitais contra militares que não demonstravam interesse em sustentar a tramoia golpista, além de atacar a imagem deles.
Braga Netto também instigou o ex-capitão Ailton Barros, que se dizia o “01 de Bolsonaro” e que foi expulso do Exército em 2006, a divulgar mensagens sobre o general Thomas Paiva, à época comandante militar do Sudeste e agora Comandante do Exército. “Parece até que ele é PT desde pequenininho”, escreveu Braga Netto em mensagem a Barros.
O ex-vice de Bolsonaro mirou também o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, por ele ter se recusado a aderir à tentativa de golpe e, por isso, seria o culpado pela posse de Lula, na visão de Braga Netto.
“Meu amigo infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente. Oferece a cabeça dele. Cagão”, publicou a Folha com base no relatório da polícia.
Antes de voar para os EUA, Bolsonaro transferiu quase um milhão
O relatório da PF comprovou também que Bolsonaro transferiu R$ 800 mil de sua conta no Brasil para uma conta no exterior, o que foi visto como uma tentativa de se manter nos Estados Unidos até o êxito da tentativa de golpe.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, em sua decisão sobre a autorização de diligências contra Bolsonaro, seus aliados e militares, teve trecho de sua análise reproduzida pela Folha.
“Segundo a autoridade policial esses elementos em corroboração com outros revelam indícios de que o major Rafael Martins de Oliveira atuou de forma direta no direcionamento dos manifestantes para os alvos de interesse dos investigados além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos e arregimentar integrantes das forças especiais do exército para atuar nas manifestações”.
Fonte: Redação do PT Nacional