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Fabiano Contarato: Monocultura extensiva e negacionismo climático de parte do agronegócio agravam riscos ao meio ambiente

O agronegócio é, inegavelmente, fundamental para o país. O desempenho do setor se reflete no panorama econômico e no desenvolvimento do país, respondendo por uma fatia de aproximadamente 27% do PIB brasileiro. É um setor tecnologicamente avançado; em muitos casos, inovador; e de produtividade crescente. Há, contudo, também elementos negativos. Parcela do agronegócio brasileiro que usa monocultura como matriz de produção e agrotóxicos como base de “tecnologia” para potencializar o desempenho produtivo contribui para a destruição de ecossistemas naturais.

A emissão de gases que aumentam o efeito estuda, o desmatamento em busca de novas fronteiras agrícolas e e a perda de biodiversidade promovida por práticas insustentáveis acabam contaminando o solo e os recursos hídricos, resultando no esgotamento dos recursos naturais. O resultado disso é que essa fatia do agronegócio colabora fortemente para o aumento do desequilíbrio climático, o que resulta em situação marcada, por exemplo, por chuvas em excesso na Região Sul e secas históricas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado brasileiro.

“No Brasil, o modelo predominante de agronegócio tem levado à degradação de ecossistemas, devido ao uso intensivo de agrotóxicos e monoculturas extensivas. No entanto, agricultores adotando práticas sustentáveis estão demonstrando que é possível conciliar a produção com a preservação do meio ambiente. Um exemplo notável é o sistema agroflorestal, no qual diferentes culturas são plantadas juntas, imitando a diversidade de um ecossistema natural”, explica o secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, Saulo Dias Kalunga.

Essa alternativa, segundo ele, não só reduz a necessidade de produtos químicos, como fertilizantes e pesticidas, mas promove a saúde do solo e a biodiversidade.

“Agricultores que adotam essas práticas estão colhendo benefícios a longo prazo, com terras mais produtivas e resilientes às mudanças climáticas”, salienta Saulo.

O sistema agroflorestal citado, é justamente o oposto do processo produtivo do setor utilizado com mais frequência – uso extensivo e predominantemente monocultor, com o objetivo de aumentar as vendas no mercado internacional. Isso significa que a tendência do sistema produtor é de possuir áreas extensas de produção e cultivo, mas geralmente de um só produto – uma grande área apenas para soja, outra apenas para o milho e assim por diante.

O agronegócio é uma cadeia de produção econômica de extrema importância a todos os setores da economia, responsável por gerar, produzir e distribuir uma imensa gama de produtos aos consumidores, além de gerar empregos. Mas, para se tornar sustentável e alinhado à preservação do meio ambiente, outros caminhos podem ser adotados.

A coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, reconhece a utilização de práticas sustentáveis por parte do agronegócio brasileiro e o pioneirismo do setor na utilização de diversas tecnologias de produção que fazem a correta interface com o meio ambiente – sendo, inclusive, muito bem-sucedidos na função de aliar a produção com a sustentabilidade e a preservação.

Apesar disso, parcela do agronegócio ainda trata a legislação ambiental e as políticas do setor como entraves a serem removidos, e que, na prática, demonstram o negacionismo climático que tem trabalhado pela fragilização das leis de proteção ambiental no país.

“Infelizmente, esse tipo de posicionamento tem alguns representantes fortes no Congresso Nacional. A pressão para flexibilizações na legislação ambiental tem crescido e escancarado irresponsabilidade. O caminho da legalidade e da conservação ambiental está trilhado. Opções não faltam. A questão é: o que mais precisa ser dito para colocar a parcela do agro que compromete negativamente o setor no caminho da civilidade e da responsabilidade para com as futuras gerações?”, questiona Suely Araújo.

Práticas adotadas por parte do agronegócio contribuem, ainda, diretamente para a crise ecológica, visto que a produção de commodities tem mantido uma injusta distribuição e resultado em processos violentos de expropriação da terra, exploração de recursos naturais e da força de trabalho humana, acesso desigual à água e fortes pressões sobre populações tradicionais e originárias, desrespeito às tradições e culturas, como de indígenas, quilombolas, agricultores familiares, camponeses, assentados, trabalhadores imigrantes.

“A agricultura convencional, baseada no uso intensivo de pesticidas e fertilizantes químicos, não só afeta negativamente o meio ambiente, mas também a saúde das pessoas que consomem os alimentos produzidos dessa forma. Por outro lado, as fazendas orgânicas estão se destacando ao priorizar métodos de produção que respeitam o equilíbrio ambiental e promovem a saúde do solo e dos consumidores”, aponta Saulo Dias Kalunga.

A agricultura orgânica, explica Kalunga, proíbe o uso de pesticidas químicos sintéticos, o que resulta em alimentos livres de resíduos tóxicos.

“Técnicas como compostagem, rotação de culturas e uso de adubos orgânicos ajudam a melhorar a qualidade do solo e a biodiversidade, contribuindo para um ecossistema mais saudável e sustentável”, argumenta.

O impacto do uso indiscriminado dos agrotóxicos

Em 2018, durante o governo Bolsonaro, período em que o Brasil avançou rapidamente na liberação do uso de agrotóxicos, o Brasil plantou cerca de 75 milhões de hectares, de acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. Essa área plantada do Brasil estava majoritariamente concentrada em monoculturas de soja (42%), de milho (21%) e de cana-de-açúcar (13%), que juntas representaram 82% de todo o consumo de agrotóxicos do país.

Estima-se que tenham sidos pulverizados, no período, um total de 1,2 bilhão de litros de agrotóxicos, e usados 7 bilhões de quilos de fertilizantes químicos.

Dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para consumo humano (Sisagua) do Ministério da Saúde, de 2019, apontam que 1.302 municípios fizeram análises dos componentes de contaminação química da água potável, no período de 2014 a 2017, e 22% deles apresentaram resíduos de agrotóxicos acima do permitido.

No Brasil, o uso de agrotóxicos possui um papel importante para os meios de produção. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que representa as fabricantes de agroquímicos, mostram que somente em 2020 a principal cultura brasileira, a soja, concentrou 48% do valor investido por agricultores em pesticidas: R$ 31,3 bilhões.

O Brasil também ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de países que consomem essas substâncias. O seu uso, consequentemente, se reflete em diversos aspectos, tanto para o meio ambiente quanto para o âmbito social.

No ano de 2020, por exemplo, o Greenpeace descreveu uma ação do governo Bolsonaro como resultado de “Chuvas de agrotóxicos na cabeça da população”, visto que a gestão, à época, reduziu de 500 metros para 250 metros a distância mínima entre povoados e as áreas que iriam sofrer a ação da pulverização, aumentando o risco de contaminação para pessoas que moram nas localidades, o que pode agravar os problemas de saúde local e prejudicar o bem-estar da população.

“Tanto o Brasil como o mundo atestaram o fiasco da política ambiental do governo Bolsonaro. Demoraremos muitos anos para recuperar esse passivo”, alertou o senador Fabiano Contarato, atual vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, em artigo publicado em 2022.

Foto: Site do PT no Senado
Fonte: Site do PT no Senado

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