“Parece que o governador Doria não quer se desgastar com setores conservadores de São Paulo”, disse o deputado estadual Emidio de Souza (PT) ao Brasil 247
O governador João Doria tem mais uma oportunidade de mostrar que não pretende apagar a memória dos que sofreram nas mãos da ditatura militar brasileira (1964-1985). A Comissão dos Direitos da Pessoa Humana da Assembleia Legislativa de São Paulo abrigará, no dia 2 de dezembro, a segunda audiência pública para tratar da transformação do antigo complexo do DOI-Codi, o palácio das torturas da Rua Tutoia, num memorial administrado pela Secretaria da Cultura.
Na audiência anterior, em 9 de setembro, registrada no documentário “O Dia em que Justiça entrou no DOI-Codi”, o juiz José Eduardo Cordeiro Rocha, da 14ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, decidiu que o prédio não poderá ter outro destino a não ser o de constituir um memorial e que o Governo do Estado teria, a partir daquela data, 90 dias para apresentar um projeto com tal finalidade. O prazo vence em 9 de dezembro.
Da primeira audiência depreendeu-se que o Governo do Estado resiste à ideia, tendo dado desculpas esfarrapadas para atravancar o projeto. Um dos argumentos é que própria Pasta da Cultura não quer a responsabilidade pelo complexo. Representantes da Procuradoria da Fazenda chegaram a dizer que a criação de um memorial no local poria em risco a vida dos visitantes, já que havia “presos perigosos” na delegacia local – esqueceram de que não há presos custodiados no local desde 2003, quando a carceragem da 36ª DP, que ali funciona, foi desativada.
“O governo tem que trazer uma proposta. Trata-se de um espaço de inestimável valor simbólico na luta pela democracia”, afirmou ao Brasil 247 o deputado estadual Emídio de Souza (PT), presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Humana da Assembleia Legislativa. “Parece que o governador Doria não quer se desgastar com setores conservadores de São Paulo. Ele pode estar sendo pressionado, talvez por militares”, desconfia o parlamentar.
O DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), que tornou a Rua Tutoia 921, na Zona Sul paulistana, o endereço mais tenebroso da ditadura civil-militar que subjugou o país por 21 anos, foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) em 2014, o que é muito pouco em termos de preservação da História.
No antigo DOI-Codi 7 mil brasileiros foram presos e torturados e 54 morreram nas sessões de tortura comandas pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
A nova audiência pública, também um ato solene, acontecerá dia 2 de dezembro, às 10h, em formato híbrido, com possibilidade de participação online, pelo canal Youtube da Alesp, ou presencialmente, no auditório Teotônio Vilela.
Com informações Brasil 247