Jair Bolsonaro admite não ter provas de que urnas eletrônicas não são seguras. Mesmo assim, continua imitando Trump e mantém ataques à democracia, tentando disfarçar a humilhação
Quem assistiu à live de Jair Bolsonaro na noite de quinta-feira (29), aquela em que prometia apresentar provas de fraude nas eleições, viu um homem desesperado. A encenação patética (o termo é de ministros do STF e TSE) lembrou à de um jogador que, depois de gritar “truco”, é desafiado a mostrar suas cartas e acaba tendo de reconhecer, humilhado, que estava blefando. Bolsonaro, no entanto, é mau perdedor, como todo ser autoritário. E, diante da derrota, faz escândalo, tenta virar a mesa e “melar” o campeonato. Não conseguirá.
O atual presidente passou anos colocando dúvidas sobre as eleições. Nos últimos meses, afirmou categoricamente que tinha provas de que as urnas eletrônicas teriam sido fraudadas em 2014 e 2018 e que, por isso, o voto impresso deveria ser aprovado. Era o seu “truco”. Como com a democracia não se pode brincar, a Justiça o intimou a apresentá-las. O mentiroso, então, revelou suas três cartas na live de quinta-feira:
1) vídeos com fake news que circulam há anos na internet e já foram desmentidos repetidas vezes;
2) um “especialista” que não quis aparecer e outro que, na verdade, pratica “matemática celestial” e faz acupuntura em árvores;
3) e, por fim, militares e ministros subalternos que aceitaram participar da farsa, incluindo generais (Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno) que deixam Bolsonaro se referir a “meu Exército”, “minhas Forças Armadas”; um coronel (Eduardo Gomes) que estava ali apenas para transmitir as palavras do “especialista” que não deu as caras; e um ministro da Justiça (Anderson Torres) que aceita envolver a Polícia Federal em uma encenação vergonhosa.
Diante do ridículo, Bolsonaro teve de admitir que suas cartas não tinham valor. Disse com todas as letras: “Não temos provas”. Passou ainda pelo constrangimento de ser desmentido em tempo real pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) depois de inventar que apenas três países utilizam urnas eletrônicas. São ao menos 46, apontou a Corte.
Antecipando seu Capitólio
Bolsonaro age de forma desesperada porque tem motivos para isso. Sua popularidade derrete, as ruas pedem seu impeachment e as pesquisas mostram que, cansados de sua incompetência, desumanidade e desonestidade, os brasileiros querem a volta do presidente Lula.
Na tentativa de se segurar, Bolsonaro se entregou ao Centrão e passou a colocar em dúvida as eleições, fazendo a defesa do voto impresso, repetindo a mesma estratégia de Donald Trump. Nos Estados Unidos, o ex-presidente também questionou as eleições apenas para não admitir a derrota e manter atiçados seus apoiadores mais fanáticos. O resultado foi a invasão por aloprados do Capitólio, a sede do Congresso americano, uma ação que deixou cinco mortos.
Ao defender o voto impresso, Bolsonaro não quer defender a democracia. Pelo contrário, busca atacá-la, produzindo aqui o seu Capitólio, que, agora, tenta antecipar. Tanto que, mesmo após admitir não ter provas, usou canais de comunicação oficiais (a live foi transmitida pela TV Brasil) para insuflar seus apoiadores a defenderem o voto impresso.
Ao agir como fez na quinta-feira, Bolsonaro apresentou provas apenas contra ele mesmo. Diferentes juristas veem crime de responsabilidade (que justifica o impeachment) no seu grotesco ataque ao voto popular. Por isso, deverá ser interpelado judicialmente, como defendeu a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Além disso, provou que nunca abandonou seu caráter autoritário e não hesita em atentar contra a democracia. Deve ser parado. O impeachment urge e sobram crimes que o justificam.
Fonte: pt.org.br