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Cúpula do Brics: Lula condena desigualdades entre países ricos e emergentes

Em discurso nesta quarta (23), Lula condenou distorções socioeconômicas de um “Plano Marshall às avessas”, que serve para irrigar financeiramente países ricos. “Iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica”, defendeu

O presidente Lula participou da 16ª Cúpula do Brics, nesta quarta-feira (23), por meio de videoconferência. Em discurso aos líderes do bloco, ele condenou as distorções socioeconômicas entre países desenvolvidos e emergentes, resultado daquilo que classificou de “Plano Marshall às avessas”, uma dinâmica desigual em que os mais pobres financiam os ricos. O petista responsabilizou as nações industrializadas pelo aquecimento global e teceu críticas às guerras no Oriente Médio, especialmente na Faixa de Gaza, e na Ucrânia.

O presidente não pôde viajar à cidade de Kazan, na Rússia, onde ocorre a reunião do Brics, porque se recupera de um acidente doméstico, há dois dias, e foi aconselhado pelos médicos a não se submeter a longos deslocamentos por enquanto. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contudo, está no país europeu para defender a política externa do governo federal. O chanceler terá reuniões bilaterais com os representantes do bloco, incluindo a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff.

No vídeo, Lula elogiou o Brics por apresentar alternativas ao fluxo financeiro apenas entre países desenvolvidos. “As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica. A atuação do Conselho Empresarial contribuiu para ampliar o comércio entre nós. As exportações brasileiras para os países do Brics cresceram doze vezes entre 2003 e 2023. O Brics é hoje a origem de quase um terço das importações do Brasil”, exaltou.

O NBD (também chamado de “Banco do Brics”), destacou Lula, “foi pensado para ser bem-sucedido onde as instituições de Bretton Woods continuam falhando”. “O Novo Banco de Desenvolvimento, que neste ano completa dez anos, tem investido na infraestrutura necessária para fortalecer nossas economias e promover uma transição justa e soberana”, disse o petista.

“Em vez de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NDB financia projetos alinhados a prioridades nacionais. Em vez de aprofundar disparidades, sua governança se assenta na igualdade de voto”, acrescentou o presidente, alfinetando o atual modelo de governança global, consolidado em acordos que remontam ao fim da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940.

Ordem multipolar
Lula contabilizou a participação do Brics na economia mundial e pregou a união entre os países do bloco em benefício da cooperação mútua, inclusive no que diz respeito ao desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA). Para o presidente, a nova tecnologia não pode ser “um privilégio para poucos”.

“Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados. Juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada mobilidade social. Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite”, observou.

“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, concluiu Lula.

Transição ecológica
Aos líderes do bloco, o presidente afirmou que “o Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima” e que “não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje”. O petista pediu o fim do “apartheid” no acesso a vacinas, como houve na pandemia de covid-19, e cobrou mais ajuda financeira para o enfrentamento do aquecimento global.

“Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes. O planeta é um só e seu futuro depende da ação coletiva. Também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, ponderou, antes de antecipar os trabalhos da COP30, a ser realizada no ano que vem, em Belém, no Pará.

Busca pela paz
Sobre o conflito em Gaza, o petista foi especialmente duro. Lula endossou as recentes falas do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que denunciou na região “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”. Em uma guerra sangrenta contra o Hamas que já dura mais de um ano, o governo de Israel ceifou cerca de 43 mil vidas.

“Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, advertiu, ao fazer menção ao conflito no leste europeu.

Sul Global
Durante a Cúpula do Brics em Kazan, os países reunidos aprovaram a entrada de 13 novos integrantes no bloco. Eles serão consultados sobre o desejo de se tornarem “Estados Parceiros” e precisam aceitar formalmente a adesão.

Os 13 novos parceiros são:

  • Turquia
  • Indonésia
  • Argélia
  • Belarus
  • Cuba
  • Bolívia
  • Malásia
  • Uzbequistão
  • Cazaquistão
  • Tailândia
  • Vietnã
  • Nigéria
  • Uganda

Inicialmente, o Brics era composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os fundadores do bloco de cooperação mútua. Recente ampliação, entretanto, permitiu a entrada de mais países: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã.

“Novos membros reforçam o papel do banco [NBD] como uma plataforma de cooperação entre os países do Sul Global”, esclareceu Dilma.

Com informações: Site do PT

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