O bolsonarista Wellington Macedo de Souza, recentemente preso no Paraguai e condenado a seis anos de prisão por participar do atentado a bomba próximo ao aeroporto internacional de Brasília, em 24 de dezembro de 2022, declarou que não responderia as perguntas dos parlamentares. Sem prestar o juramento de dizer a verdade, Wellington permaneceu em silêncio durante praticamente toda a reunião.
Ele foi preso pela Polícia Nacional do Paraguai na última quinta-feira (14/9) e entregue à Polícia Federal brasileira no mesmo dia. Estava foragido desde 5 de janeiro. Ele também atuou como assessor da então ministra Damares Alves na gestão Bolsonaro.
Nas poucas vezes em que se manifestou na reunião da CPMI do Golpe desta quinta-feira (21/9), o extremista repetiu que apenas colaboraria com as investigações após seus advogados terem “acesso às acusações”. Essa foi sua resposta padrão até mesmo quando foi questionado se tinha esposa, filhos ou se ele se considerava inocente.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) rebateu a tese apresentada pelo depoente para permanecer em silêncio lembrando que seu advogado tem acesso aos autos de todos os processos respondidos pelo extremista. Ao todo, o bolsonarista responde a aproximadamente 100 processos no estado do Ceará. Quase todos referentes à divulgação de notícias falsas e criminosas.
“Não sei o motivo dessa desculpa esfarrapada de que não teve acesso aos autos. Ele, que era tão valente de convocar golpe, enaltecer, pedir aos militares, agora está aí, caladinho, usando uma desculpa esfarrapada. É mais um bolsonarista medroso que vem aqui e não tem coragem de assumir os atos que fez, inclusive atos de terrorismo, como foi demonstrado aí”, afirma o deputado.
Os parlamentares mostraram o envolvimento de Wellington em diversos ataques à democracia no país. O material apresentado pela senadora Eliziane Gama mostra que, desde 2021, dois anos antes do ato golpista de 8 de janeiro, Wellington já fazia anúncios e convocações para promover a invasão do STF e do Congresso Nacional.
Uma das publicações, por exemplo, chamava para um acampamento com o objetivo de pedir a exoneração dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, que, posteriormente, seriam então julgados pelo Superior Tribunal Militar.
Além disso, o bolsonarista também participou de uma tentativa de invasão ao hotel onde o então presidente eleito Lula estava hospedado no dia 5 de dezembro do ano passado em Brasília. Outros registros apresentados pelos parlamentares mostram o envolvimento de Wellington Macedo na tentativa de invasão ao aeroporto de Brasília em 8 de dezembro na companhia dos bolsonaristas Alan Diego e do cacique Tserere. Após a prisão de Tserere, em 12 de dezembro do ano passado, o depoente também esteve na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal.
Para além do envolvimento em atos antidemocráticos, o agora calado bolsonarista também foi apontado como responsável pela violação de um caixão para expor suas teorias negacionistas sobre a pandemia.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, apontou para uma curiosidade em relação aos vídeos gravados por Wellington. Quase em sua totalidade, as mensagens eram seguidas de pedidos de transferências de dinheiro por meio de pix.
“Em 7 de setembro de 2021, ele faz, a divulgação de um pix, que depois foi bloqueado pelo ministro Alexandre de Moraes. No dia 12 de novembro de 2022, ele também pede para receber pix e fazer investimentos no acampamento, já no QG do Exército. Já foragido, no dia 29 de dezembro de 2022, ele posta mais um vídeo em suas redes sociais. Além de criticar o ministro Alexandre de Moraes, ele também faz, mais uma vez, solicitação de transferências”, elenca a senadora.
Atentado a bomba em Brasília
Em algumas mensagens exibidas pela senadora Eliziane Gama, conversas entre Wellington Macedo e George Washington de Oliveira Sousa, também condenado a prisão pela tentativa de atentado a bomba, havia pedidos e orientações para que Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) fossem treinados e acionados para as manifestações antidemocráticas.
Para Eliziane, os atos que ocorreram em dezembro de 2022, como a tentativa de invasão ao hotel, em Brasília, onde o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, estava hospedado (5/12); o ataque à sede da Polícia Federal (12/12); e o atentado a bomba no aeroporto foram todos gestados e planejados de dentro do acampamento junto ao QG do Exército, em Brasília.
“Lá estava um acampamento montado com armas, munição de grosso calibre, e também com esse tipo de discussão”, lembrou a senadora.
A senadora também demonstrou estranhamento com a movimentação financeira atípica do depoente. Após sair do cargo no governo Bolsonaro, em dezembro de 2019, ele não teve mais registro de trabalho formal. Apesar disso, o bolsonarista – sem ter acesso a uma renda financeira que justificasse – comprou três veículos entre 2021 e 2022 totalizando um investimento na casa dos R$ 300 mil. Dentre eles, o Hyundai Creta utilizado na tentativa de explosão do caminhão-tanque nos arredores do aeroporto de Brasília.
Possibilidade de colaboração
No fim da reunião, a senadora Eliziane Gama abriu a possibilidade para que o bolsonarista Wellington Macedo faça um acordo de delação premiada e colabore com as investigações dos atos golpistas. Uma das intenções dos parlamentares é avançar as investigações sobre os financiadores da máquina golpista.
“O senhor não tem interesse de colaborar para os trabalhos aqui dessa comissão? De contribuir, trazer as informações a essa comissão? Nos levantamentos que fizemos, atestei que o senhor não agia de forma solitária, agia ao lado de várias outras pessoas. O senhor não cometeu isso de forma isolada, é um fato que temos na comissão”, disse a senadora.
O advogado do bolsonarista disse não ver restrições a essa alternativa. Mas pediu um tempo até a próxima semana para ter acesso a trechos de processos que afirmou desconhecer até o momento.
Repercussão em torno da delação de Mauro Cid
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), afirmou à CPMI que as informações publicadas pela imprensa comprovam a tese governista de que “o dia 8 de janeiro não é um raio num dia de sol. É parte de um movimento golpista”.
Randolfe exibiu postagens publicadas em dezembro do ano passados nas redes sociais do empresário Paulo Generoso, ligado ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Nas postagens, o empresário diz que Bolsonaro teve encontro com o alto comando das Forças Armadas para pedir apoio na tentativa de barrar o avanço do Judiciário sobre outros Poderes. “E pediu para que a posse de Lula fosse adiada por seis meses até que equipe de juristas fizessem uma investigação sobre favorecimento a Lula”, diz a postagem.
O deputado Rogério Correia classificou o indiciamento de Jair Bolsonaro como “favas contadas” após o vazamento do trecho da delação de Mauro Cid apontando para a participação de Bolsonaro numa reunião com a cúpula das Forças Armadas para avaliar a possibilidade de aplicação de um golpe.
“Mauro Cid revela que Bolsonaro fez reunião com a cúpula militar para avaliar golpes no país. Felizmente, diz aqui que o Comando do Exército disse que não embarcaria no plano golpista e, pelo que eu sei, o da Aeronáutica também. Por isso, tem, no telefone do Mauro Cid, aquele desalento de dizer para o Coronel Lawand que o golpe tinha flopado, que eles não tinham conseguido a unidade das Forças Armadas”, destacou o deputado.
Fonte: Rafael Noronha – PT no Senado – Com informações de agências de notícias
Foto: Alessandro Dantas