O caráter global das emergências climáticas não pode ser uma justificativa para que iniciativas locais para o enfrentamento à maior e mais importante crise do nosso tempo sejam colocadas em segundo plano. Mesmo que os esforços para limitar o aquecimento do planeta dependam de políticas e acordos internacionais, é nas cidades que a maior parte da humanidade sofre as consequências dos eventos extremos.
No Brasil a agropecuária e o desmatamento são as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, mas o modelo como as grandes cidades se configuram no País não apenas promove um aumento significativo das emissões de gases, como dificulta a dispersão de poluentes e impede a penetração das águas das chuvas no solo. Como isso, os centros urbanos se tornaram ambientes extremamente vulneráveis aos fenômenos climáticos extremos, trazendo consequências dramáticas para a população a cada evento.
Grandes cidades no mundo todo têm olhado com atenção para esta questão, adotando conceitos urbanísticos de “Cidades Parque” ou “Cidades Esponja”, para citar apenas 2 exemplos, seja no aumento da cobertura vegetal, na redução do uso do automóvel, na eletrificação do transporte público como na recuperação da permeabilidade do solo. Já no Brasil, se o governo federal tem feito um enorme esforço para enfrentar a crise climática, o mesmo não podemos afirmar de alguns estados e municípios.
Na contramão das necessidades urgentes da população e dos exemplos nacionais e internacionais de sucesso, alguns prefeitos e governadores, cito aqui o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador do estado, Tarcísio de Freitas, tem ignorado tanto as causas do sofrimento da população como as propostas capazes de mitigá-las – e o que é pior, seguem adotando projetos e políticas atrasadas, com alto custo social, ambiental e econômico, que intensificam a crise.
Tarcísio e Nunes não têm feito nada para garantir a universalização do saneamento básico; para incentivar a compostagem de resíduos orgânicos; promover a coleta seletiva de lixo e garantir sua destinação correta; investir no transporte ativo e no transporte público; proteger áreas de nascentes e recuperar os cursos d’água; aumentar a permeabilidade do solo ou proteger e aumentar a cobertura vegetal urbana. O resultado é que a cada chuva, o desastre aumenta.
*Artigo do Deputado Federal Nilto Tatto (PT-SP)
Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados