A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo recebeu, na noite da última quinta-feira (9), uma audiência pública com a proposta de discutir sobre a administração privada de parques e áreas verdes paulistas. Gestores ambientais e especialistas foram convidados a expor suas principais insatisfações e conversar com a população ao longo do evento sobre possíveis melhorias.
Proponente da ocasião, o deputado Donato (PT) descreveu a colaboração de pessoas que lutam pelas áreas verdes de São Paulo como fundamental para construir novas políticas públicas favoráveis ao sistema ambiental. “Existe um processo de transformação dos parques num nicho empresarial, e não é isso que queremos no nosso Estado”, afirmou.
Sistema ambiental paulista
Representante do movimento de proteção ao desenvolvimento sustentável “Nosso Parque”, Fábio Sanches participou da audiência. Em sua explanação, o ativista usou o termo “desmonte do sistema ambiental paulista” para se referir às políticas de privatização dos parques que foram construídas nos últimos anos e que, segundo ele, apenas agravaram a degradação do meio ambiente no Estado.
“O desmonte do sistema [ambiental] é executado há muito tempo. Na verdade, a última vez em que as políticas públicas foram feitas a favor da natureza e da qualidade de vida na cidade data dos anos 1950, quando começaram um parque onde havia um grande pântano”, iniciou Sanches, fazendo menção ao atual Parque Ibirapuera.
Ainda em seu discurso, o ativista relatou que, em 2016, o movimento ambientalista começou a perceber o esforço do Governo do Estado para desmobilizar e desestruturar o sistema ambiental. De acordo com ele, somente naquele ano, foram concedidos, à iniciativa privada, 14 parques estaduais; cinco estações experimentais; e seis florestas estaduais.
“Quando se permite a comercialização e a exploração de áreas como estas, claramente, cria-se um conflito ético, que despreza a importância do meio ambiente na vida da população. Por isso, a fiscalização de contratos e concessões dos nossos parques deveria ser bem mais rigorosa. Cabe aos órgãos responsáveis, como a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), realizar isso”, contestou Sanches.
Membro da Associação dos Amigos do Alto de Pinheiros (Saap) e conselheira do Parque Villa-Lobos, Maria Helena deu sequência ao ato, comparando a antiga gestão do parque à margem do Rio Pinheiros com a atual, de responsabilidade da iniciativa privada.
“Desde sua criação, o parque cumpriu muito bem sua função planejada: ser um espaço de natureza, música e atividades que enriquecem a cidade e a vida à beira do Rio Pinheiros. No entanto, após a concessão, tornou-se um grande parque de diversão com um monte de atrações caríssimas, estacionamento caríssimo e barracas de vendas diversas. Infelizmente, virou um espaço destinado a uma classe social específica, e quase não há movimento quando o parque não está sediando eventos”, criticou a conselheira.