Um estudo produzido por pesquisadores norte-americanos, liderados pela professora Marin Skidmore, da Universidade de Illinois, associa o aumento de casos de leucemia infantil à expansão do cultivo da soja e do uso de agrotóxicos no Brasil. O trabalho cruzou 15 anos de dados da saúde, especialmente sobre o câncer infantil, com o avanço do cultivo de soja por bioma (Amazônia e Cerrado). O levantamento sugere que metade das mortes de crianças por leucemia em um período de 19 anos, está ligada à expansão da soja e do uso de pesticidas nas regiões analisadas.
Os dados dos impactos dos agrotóxicos em crianças são alarmantes, especialmente porque elas não desempenham atividades laborais, ou seja, não manuseiam diretamente os venenos agrícolas, mas ainda assim, são vítimas de intoxicação pelos mesmos. Isso nos permite dissipar qualquer dúvida sobre a contaminação dos alimentos, da água, do ar e também do solo, causada pelo uso excessivo de agrotóxicos e suas consequências para as populações do campo, das florestas e das águas, mas também das cidades. Não podemos tolerar qualquer morte evitável, seja de quem for, mas a intoxicação e morte de crianças com menos de 10 anos de idade deveria acender um alerta para a necessidade de maior rigor no uso desses produtos, até que seja possível sua completa extinção.
Por isso é necessária uma política que reduza gradualmente o uso dos agrotóxicos, atenuando os impactos dos venenos em nossas vidas, enquanto promove uma agricultura saudável e sustentável. Os grandes protagonistas dessa transformação devem ser a Reforma Agrária e a agricultura familiar, que assim como o modelo que hoje chamamos de convencional, também precisam de políticas e recursos públicos para se estabelecer, se desenvolver e dar o devido retorno à sociedade, na criação e manutenção de empregos; no fomento à economia das pequenas cidades; no trato adequado com o meio ambiente e com os recursos naturais e obviamente, na garantia de alimentos sadios na mesa dos brasileiros.
Essa política, capaz de repensar e adequar a forma como produzimos alimentos às novas configurações do mundo, pode virar realidade, se o Projeto de Lei 6670/16, do qual fui o relator na Comissão de Meio Ambiente da Câmara, virar lei. O texto que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA) está pronto para ser votado no Plenário da Câmara e pode ser uma resposta à um modelo altamente predatório de produção agrícola, que já se mostrou insustentável do ponto de vista ambiental e para a vida no Planeta.
*Artigo do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP)
Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados